Novas cidades especializadas na erradicação da pobreza
- Daniel R. Schnaider

- 6 de ago.
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Chamamos de Cidade 5.0, locais planejados para receber migrantes humildes. Territórios especializados em guiá-los por uma jornada de desenvolvimento que os leve à independência social e econômica, sem qualquer ajuda de auxílios ou assistencialismos. O nome se justifica, porque identificamos quatro gerações de cidades: desde os primeiros assentamentos urbanos até as supercidades atuais, como Shenzhen, Nova Iorque, Londres e São Paulo. No entanto, essas metrópoles muitas vezes podem criar um desequilíbrio social enorme, uma vez que absorvem para si o capital humano e financeiro que poderia fazer de outras regiões um sucesso. A Cidade 5.0 surge como uma quinta geração planejada com propósito claro, baseada em um regime meritocrático operado pela iniciativa privada, seguindo um alto padrão de governança e conformidade auditado pela PRIME Society, sob uma gestão científica.
Recentemente encontramos uma cidade interessada em implantar uma comunidade 5.0: um bloco inicial que daria origem ao projeto completo. Durante a reunião, me questionaram se seria possível criar esta comunidade sem incluir os pobres. Essa pergunta revelou algo fundamental: muito além de construir cidades, é necessário comunicar de forma incansável sua missão e valores.
Existem seis modelos de Cidades 5.0, todas baseadas em mecanismos produtivos que irão garantir sua sustentabilidade econômica e um bom retorno para os investidores - ou seja, a iniciativa privada. Essas versões podem ser de natureza Primária, Industrial, Comercial, Logística, Turística e por fim, voltadas à renovação urbana de uma área existente.
Começamos pela Cidade 5.0-P, (Primária) como por exemplo a do tipo agrícola. Segundo o Banco Mundial, 78% da população pobre vive em áreas rurais e participa diretamente da agricultura. O principal desafio, nesse contexto, é capacitar pequenos produtores, oferecendo-lhes acesso a recursos essenciais e conhecimento especializado. Isso inclui financiamento para que possam adquirir sementes de qualidade, ferramentas e tecnologias agrícolas modernas. O World Food Bank é líder no desenvolvimento dessas regiões.
Toda Cidade 5.0 precisa de uma empresa âncora que ao mesmo tempo que trabalha para enriquecer, também tem a obrigação de elevar a qualidade do capital humano. Outros exemplos viáveis de Cidade 5.0-P - poderiam ser modelos baseados em mineração, petróleo e gás.
Já a Cidade 5.0i, (industrial), representa naturalmente uma cidade cuja empresa âncora é do setor secundário. Com o avanço da automação e da inteligência artificial, surge o desafio de criar fábricas que mantenham a relevância da força do trabalho humano. Isso preocupa, pois ainda que a fábrica gere e distribua seus lucros para sustentar o local, isso não nos ajuda a cumprir o objetivo de formar uma geração de cidadãos independentes. Portanto, precisamos lembrar que a própria construção da comunidade, pode e deve ser feita por sua população. Uma cidade composta de múltiplas comunidades pode gerar emprego por muitos anos. Mesmo com a presença de robôs, um ecossistema produtivo e robusto, ainda pode gerar oportunidades de trabalho e valor ao capital humano.
Uma Cidade 5.0-C ( comercial), por sua vez, pode ter como principal motor econômico um centro de compras, seja ele um shopping center tradicional, um espaço aberto de comércio ou grandes feiras periódicas. Em termos objetivos, sua principal fonte de receita está na venda de bens e serviços a visitantes.
Para que isso ocorra com sucesso, a localização geográfica é determinante: a cidade deve estar estrategicamente posicionada para atrair fluxo constante de consumidores. Isso pode ocorrer por estar próxima a polos turísticos, funcionar como rota de acesso a grandes centros urbanos ou abrigar outlets e centros de compras capazes de atrair visitantes de outras regiões.
Além da localização, a infraestrutura logística deve garantir fluidez no recebimento de produtos e na chegada de visitantes. Mas o fator humano é igualmente crucial: é preciso cultivar uma cultura de atendimento e experiência positiva que incentive o retorno do cliente e o boca a boca espontâneo — transformando o visitante em promotor da cidade.
A Cidade 5.0-L, (Logística) nasce com a vocação de ser um hub de armazenamento e distribuição de alta capacidade, integrado a diversos modais de transporte — rodoviário, ferroviário, hidroviário e aéreo, combinados conforme a necessidade. A localização é mais uma vez decisiva: esse tipo de cidade deve estar próxima a grandes centros de consumo e ter fácil acesso a rotas comerciais.
Um bom exemplo é a Amazon, que já opera mais de um milhão de robôs em seus armazéns. Esse modelo ilustra o tamanho do potencial de geração de riqueza, mas também revela a ameaça aos empregos num complexo desse porte. Embora a maioria dos caminhões ainda conte hoje com motoristas humanos — um cenário que tende a mudar —, a redução de mão de obra por metro quadrado não significa obsolescência do fator humano, mas sim a mudança de sua função - com maior foco nas exceções do que com o ordinário.
No turismo, temos o exemplo de Zanzibar. O Charter Cities Institute (CCI) tem desempenhado um papel crucial na visão de um futuro inovador para Zanzibar, ao colaborar ativamente com o governo local na exploração e implementação do conceito de uma cidade charter. Longe de ser apenas um projeto de construção, esta iniciativa visa criar um ambiente com um arcabouço regulatório e de governança único, projetado para atrair investimentos, fomentar a inovação e gerar oportunidades econômicas substanciais. A experiência e o aconselhamento estratégico são fundamentais para moldar essa nova área, que busca impulsionar o desenvolvimento, diversificar a economia e, em última instância, elevar a qualidade de vida dos habitantes de Zanzibar através de um modelo de crescimento mais dinâmico e flexível.
Originalmente, na PRIME Society, a ideia de Cidades 5.0-R — (Renovação) foi deixada de lado. Acreditava-se que seria extremamente desafiador alcançar consenso para transformar zonas urbanas já estabelecidas e fazê-las abraçar a visão e os valores de uma Cidade 5.0. Por isso, a criação de projetos greenfield (do zero) parecia a rota mais simples.
No entanto, a crescente demanda por cidades cujos centros foram comprometidos ao longo do tempo, e que os governos desejam reimaginar, nos fez reconsiderar. Decidimos, então, dar uma chance às Cidades 5.0-R. A lógica é clara: a dor de cabeça e o esforço de estabelecer uma nova cultura em uma área existente são compensados pela economia significativa de não precisar criar toda uma nova infraestrutura do zero. É um desafio complexo, mas com um potencial transformador imenso para o desenvolvimento urbano.
Cidades, por natureza, são entidades dinâmicas; elas nascem de um contexto e passam por contínuas metamorfoses impulsionadas pelas realidades sociais e econômicas. Reconhecendo essa fluidez, estamos dedicados a desenvolver diversos modelos de Cidades 5.0. O objetivo é claro: atender às necessidades e aspirações do maior número possível de pessoas que buscam um futuro melhor para si e suas famílias.
Essa flexibilidade no design e na implementação das Cidades 5.0 é crucial. Ela amplia a capacidade dos governos de solucionar seus desafios econômicos e sociais de forma mais eficaz, permitindo a adaptação a cenários variados e a criação de ambientes urbanos que realmente ressoem com as necessidades de suas populações.
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