A cultura como fator determinante do sucesso: poderá ela ser influenciada?
- Daniel R. Schnaider

- 21 de jul.
- 4 min de leitura
Uma análise pessoal entre Brasil e Israel

É comum as pessoas questionarem o processo de planejamento em organizações, especialmente quando se deve estimar um evento futuro como por exemplo, receita. Afinal, são raros os casos em que o planejado e executado são equivalentes. O segredo está na diferença entre os dois - é nessa ‘gap analysis’ que se encontra o aprendizado. O mesmo pode ser dito ao comparar países, culturas e escolhas. A diferença cultural entre Brasil e Israel é algo que me fascina há décadas, e acredito que pode levar-nos a uma profunda reflexão.
Vamos começar entendendo os desafios do Brasil como nação: dívida, corrupção, mais de quarenta milhões de pessoas vivendo na pobreza e baixo nível de produtividade. O Brasil é o quinto maior país em extensão territorial, com aproximadamente 220 milhões de habitantes. Produz commodities como alimentos, minérios e petróleo. Não possui vulcões ativos nem terremotos e compartilha uma única língua, o português.
Israel, em contraste, é um dos menores países do mundo. Tem apenas 10 milhões de habitantes, grande parte do seu território é desértico e não dispõe de recursos naturais abundantes. Além disso, encontra-se em um conflito existencial permanente, cercado por sete exércitos inimigos.
Meus amigos e amigas israelenses são heróis de guerra, estavam dispostos a sacrificar suas vidas por uma ideia simples, o direito do povo judeu de viver com paz e segurança em seu próprio Estado, em sua terra ancestral. São empreendedores, tentam fazer do mundo um lugar melhor com diferentes iniciativas, pensando no ‘nós’. Entendem com profundidade geopolítica, economia e viajaram pelo mundo.
Meus amigos brasileiros não compartilham a maior parte dessas características. Demonstram pouco interesse pelo mundo, priorizando temas mais mundanos, como o esporte. Em geral, não se voluntariam — como exemplo, em uma escola com 1.400 pais, é difícil reunir pessoas suficientes para compor o conselho. Preferem estabilidade e previsibilidade, e a coragem não está entre suas virtudes mais marcantes. Reclamam da situação, mas raramente tomam atitudes concretas para mudá-la — é incomum encontrar alguém participando de manifestações ou eventos políticos.
Este artigo não é científico — não realizei amostragens aleatórias das duas populações nem segui o rigor de um estudo empírico. É claro que há exceções em ambos os países. Entre os mais pobres no Brasil, por exemplo, frequentemente há mais senso de coletividade na resolução de problemas do que na classe média. Já os Haredim, ultra-religiosos, acreditam que sua colaboração social é meramente rezar. Mas minha percepção é que a classe média brasileira se assemelha a um animal selvagem lutando por sobrevivência, enquanto meus amigos israelenses se comportam como caçadores — proativos, brilhantes, ágeis e focados.
O futuro é sempre incerto, mas cabe perguntar: qual país terá mais sucesso? Se você tivesse 100 dólares para investir por vinte anos, em qual acreditaria ter o melhor retorno? No império das commodities ou naquele representado por uma linha de produção de líderes? Na cultura que estimula a coragem ou na que é marcada pelo medo de sair à rua, pelo carro blindado, pela segurança na porta do prédio e pela van escolar?
Qual é o país que traz maior esperança? Aquele que defende suas fronteiras no ar, no mar e na terra, ou aquele cujas fronteiras são prostituídas pelo tráfico e contrabando? Aquele país que prioriza o individualismo, ou aquele que pensa no bem coletivo? Aquele que tenta censurar a diversidade de opiniões ou aquele onde o número de opiniões equivale ao tamanho da população.
Cada país tem uma diversidade de problemas peculiares e a cultura é muitas vezes a chave para solucioná-los. Japão e Alemanha tinham, antes da Segunda Guerra Mundial, uma cultura agressiva de conquistadores. Após a guerra, fizeram uma mudança de 180 graus para uma cultura pacífica. Hoje, precisam de uma cultura que suporte seu rearmamento para se proteger dos poderosos vizinhos.
E qual cultura precisamos para lidar com questões globais? Proliferação de armas de destruição em massa, desafios climáticos, tráfico humano, emprego na era de IA, entre tantos outros.
Teremos nós, como sociedade global, a cultura certa para os desafios que precisam de nossa atenção - além daqueles que estão por vir? É necessário haver guerras para criar heróis, ou crises para que se levantem os líderes? É possível moldar a cultura em um espaço de tempo suficientemente curto para solucionar os tantos desafios que enfrentam as nações e a nossa espécie?
Por exemplo, é possível solucionar a pobreza no Brasil antes que IA torne funcionários obsoletos? É possível modernizar a cultura brasileira para que surja uma nova geração de líderes, mesmo que esse objetivo conflite com o interesse de tantos políticos que desejam uma população um tanto submissa?
Diante de uma cultura e um sistema que desencoraje o surgimento de líderes e muito mais o seu progresso - o Brasil, mesmo com todas as suas riquezas, está em uma posição de fraqueza. Seu desafio não é que nasça o próximo Churchill verde-amarelo, pois a “máquina pública” irá massacrá-lo. É necessário que surjam dezenas deles.
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Excelente reflexão! Falando no contexto Brasil, você acredita em um processo de transformação cultural com impacto prático e percepção clara na sociedade a curto/médio prazo? Quais fatores poderiam gerar esse impacto no modus operandi do comportamento do brasileiro?